Lance Livre #5 - O duro caminho rumo à vaga olímpica


icone facebook icone twitter icone whatsapp icone telegram icone linkedin icone email


Por Paulino Lamenha

Em várias entrevistas, Paula e Hortência declaravam que os Jogos de Barcelona em 1992 poderiam ser sua última oportunidade de disputar a tão sonhada Olimpíada. Vindo de um inesquecível ouro no Pan de 1991, nossa seleção estava embalada e chegava ao pré-olímpico da Espanha como favorita a uma das quatro vagas (que depois se tornariam cinco devido a não participação da Iugoslávia). Num grupo com Tchecoslováquia, Polônia, China, Zaire, Hungria, Austrália e Republica Dominicana, as brasileiras precisavam ficar entre as três primeiras para avançar na competição (o campeão do grupo já se classificaria diretamente para Barcelona, enquanto 2o e 3o lugares disputariam com as do grupo B, três vagas restantes). Então, em 28 de maio, iniciou em Vigo, o pré-olímpico mais incrível da história do basquete feminino brasileiro.


Foto: Arquivo.jpg

A estreia foi contra a Tchecoslováquia (da inesquecível Eva Nemcova). Num jogo em ritmo parto, os 41 pontos anotados por Hortência não foram suficientes para evitar a dura derrota por 91 x 89. Esse revés obrigaria uma campanha quase perfeita até o final da 1a fase. No 2o jogo, a boa vitória (105 x 65) sobre a Polônia de Margot Dydek (na época com 18 anos e 2,13 m) deu alento para o confronto seguinte contra as chinesas. Neste jogo, vimos o time de Zengh Haixia abrir mais de 20 pontos sobre as brasileiras, mas também foi naquele dia que a torcida conheceu melhor as jovens Helen Luz e Adriana Santos, responsáveis por uma reação que, apesar de não ter sido suficiente para a vitória, trouxe a expectativa que "ainda seria possível".

O triunfo contra Zaire (90 x 60) e a boa atuação contra a Hungria de Judith Balogh (40 pts neste jogo) e Agnes Nemeth, foram fundamentais para chegarmos com moral no jogo decisivo contra as poderosas australianas, até então invictas no torneio. Brasil x Austrália, o jogo mais incrível que já tive a oportunidade de assistir.


Foto: Arquivo.jpg

Era necessário que as Tchecas (já classificadas para a fase final), também vencessem as australianas na última rodada. E ACONTECEU! Foi um dos momentos mais lindos do torneio: o time brasileiro inteiro nas arquibancadas, de mãos dadas, torcendo por uma improvável vitória tcheca. Final de jogo, Tchecoslováquia venceu por 72 x 69, e a Austrália estava eliminada.

Dessa forma, depois de três tentativas, o Brasil finalmente passou de fase em um torneio pré-olímpico. A partir dali, tínhamos a possibilidade de dois jogos. Vencendo apenas um, o sonho estaria realizado. E dessa vez nossas meninas não deram mole: na primeira oportunidade destruíram a Itália por 94 x 76. Pela primeira vez na história, o basquete feminino do Brasil disputaria uma Olimpíada!

Depois disso, o titulo mundial em 1994 nos classificou diretamente para Atlanta 1996 (quando o torneio passou a contar com 12 seleções). Nos anos seguintes, as vagas olímpicas passaram a ser distribuídas, primeiro por pré-olímpicos continentais e depois em uma repescagem mundial.


Foto: Arquivo.jpg

Agora em 2020, voltamos a ter um torneio mundial como única forma de uma seleção chegar aos Jogos. Estamos a pouco mais de 10 dias para nossa estreia, e por isso a escolha deste tema para nossa coluna. A classificação olímpica é uma missão duríssima. Como diria Maria Helena Cardoso, "Jogos Olímpicos é um barco de vencedores", e sair classificado de Bourges representará, definitivamente, o renascimento do nosso basquete feminino.

Que a viagem no tempo proporcionada por esses textos motive ainda mais nossas atletas, comissão técnica, e entusiasme nossa torcida. A tarefa não será fácil, mas a conquista será muito festejada!

BOA SORTE BRASIL! RUMO A TÓQUIO!

« Voltar